Relato da primeira visita ao
Hospital de Clínicas de Porto Alegre
19 de dezembro de 2010
O BALÃO VERDE
Ao entrar no quarto, ele estava
sentado na cama. Sério, muito sério. Tinha o catéter atrás de uma das orelhas.
Escolhia o que comer entre alguns biscoitos e frutas que o médico havia
liberado. Me aproximei e disse oi sorrindo, e ele me olhou com aquele triste
olhar de quem diz não querer nada com nada. Perguntei seu nome e avistei uma plaquinha
na cabeceira da cama onde se lia João Gabriel. Sua mãe o acompanhava. Perguntei
sua idade e ela me disse, quatro anos enquanto lhe dava uma banana. Ele seguia
muito sério, mas comeu a fruta. No quarto haviam mais dois leitos vazios e a
mãe do João me pediu licença para ausentar-se um pouquinho..Ficamos então eu e
o João. Fiz cósquinhas em seus pés e recebi o mesmo olhar sério e cansado de
antes. Fui tirando de minha bolsa alguns brinquedos na tentativa de fazer o
João sorrir, e nada. Brincamos de pião, com o robô de cordas, mostrei a ele
minha varinha mágica, pois é com ela que as crianças conversam e fazem seus
pedidos. Tirei da bolsa ainda, um coelhinho, um pandeiro e uma flauta. Nada.
Nenhuma animação. Tentei ler historinhas mas ele pouco interessou-se. Pensei:
ele deve estar indisposto. A medicação os deixa sonolentos, em outros,
extremamente inquietos e estressados. Olhei para ele e ele permanecia sentado
sem falar nada. Olhava os brinquedos sem vontade de brincar. Perguntei se ele
queria dormir ou se preferia brincar outra hora e ele não respondeu. Pensei em
deixa-lo mas aí, tirei de “minha super sacolinha de fazer criança feliz” uma
bexiga verde. Fui enchendo e depois comecei a soltar o ar esticando a borracha
para que fizesse aqueles estranhos e estridentes sons, e, para surpresa minha,
o João, caiu na gargalhada. Fiquei tão FELIZ que por pouco não subi na cama
para brincar com ele. Aí, ele me pediu um balão e quando tentou enchê-lo, se
babou todo. Deu muita risada quando eu, com uma fralda, secava o balão dizendo:
vamos secar o pescoço, os braços, a bunda; e ele rindo, olhando pro babado
balão. Depois disso, ficou falante e disposto. Brincamos mais um pouco e lhe
expliquei que precisava ver outros amiguinhos. Deixei com ele o balão e deixo
com vocês este registro de uma tarde quente em um quarto do Hospital de
Clínicas.
Maira Knop Fagundes
Relações Públicas – Poeta - Voluntária do Instituto do Câncer Infantil
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