E n v o l t u r a S

20 outubro 2012



Relato da primeira visita ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre

                                                                          19 de dezembro de 2010
                                           O BALÃO VERDE


Ao entrar no quarto, ele estava sentado na cama. Sério, muito sério. Tinha o catéter atrás de uma das orelhas. Escolhia o que comer entre alguns biscoitos e frutas que o médico havia liberado. Me aproximei e disse oi sorrindo, e ele me olhou com aquele triste olhar de quem diz não querer nada com nada. Perguntei seu nome e avistei uma plaquinha na cabeceira da cama onde se lia João Gabriel. Sua mãe o acompanhava. Perguntei sua idade e ela me disse, quatro anos enquanto lhe dava uma banana. Ele seguia muito sério, mas comeu a fruta. No quarto haviam mais dois leitos vazios e a mãe do João me pediu licença para ausentar-se um pouquinho..Ficamos então eu e o João. Fiz cósquinhas em seus pés e recebi o mesmo olhar sério e cansado de antes. Fui tirando de minha bolsa alguns brinquedos na tentativa de fazer o João sorrir, e nada. Brincamos de pião, com o robô de cordas, mostrei a ele minha varinha mágica, pois é com ela que as crianças conversam e fazem seus pedidos. Tirei da bolsa ainda, um coelhinho, um pandeiro e uma flauta. Nada. Nenhuma animação. Tentei ler historinhas mas ele pouco interessou-se. Pensei: ele deve estar indisposto. A medicação os deixa sonolentos, em outros, extremamente inquietos e estressados. Olhei para ele e ele permanecia sentado sem falar nada. Olhava os brinquedos sem vontade de brincar. Perguntei se ele queria dormir ou se preferia brincar outra hora e ele não respondeu. Pensei em deixa-lo mas aí, tirei de “minha super sacolinha de fazer criança feliz” uma bexiga verde. Fui enchendo e depois comecei a soltar o ar esticando a borracha para que fizesse aqueles estranhos e estridentes sons, e, para surpresa minha, o João, caiu na gargalhada. Fiquei tão FELIZ que por pouco não subi na cama para brincar com ele. Aí, ele me pediu um balão e quando tentou enchê-lo, se babou todo. Deu muita risada quando eu, com uma fralda, secava o balão dizendo: vamos secar o pescoço, os braços, a bunda; e ele rindo, olhando pro babado balão. Depois disso, ficou falante e disposto. Brincamos mais um pouco e lhe expliquei que precisava ver outros amiguinhos. Deixei com ele o balão e deixo com vocês este registro de uma tarde quente em um quarto do Hospital de Clínicas.


Maira Knop Fagundes
Relações Públicas – Poeta - Voluntária do Instituto do Câncer Infantil

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