27 outubro 2012
Como escrever um bom Poema:
Faça bom uso
das palavras incipientes
para que não classifiquem
teus dizeres
como versos insipientes
22 outubro 2012
Se você me perguntar o que me faz sorrir, eu nem sei o que iria te dizer, mas se me perguntar o que me faz chorar, ficaria dias te escrevendo...
20 outubro 2012
Relato da primeira visita ao
Hospital de Clínicas de Porto Alegre
19 de dezembro de 2010
O BALÃO VERDE
Ao entrar no quarto, ele estava
sentado na cama. Sério, muito sério. Tinha o catéter atrás de uma das orelhas.
Escolhia o que comer entre alguns biscoitos e frutas que o médico havia
liberado. Me aproximei e disse oi sorrindo, e ele me olhou com aquele triste
olhar de quem diz não querer nada com nada. Perguntei seu nome e avistei uma plaquinha
na cabeceira da cama onde se lia João Gabriel. Sua mãe o acompanhava. Perguntei
sua idade e ela me disse, quatro anos enquanto lhe dava uma banana. Ele seguia
muito sério, mas comeu a fruta. No quarto haviam mais dois leitos vazios e a
mãe do João me pediu licença para ausentar-se um pouquinho..Ficamos então eu e
o João. Fiz cósquinhas em seus pés e recebi o mesmo olhar sério e cansado de
antes. Fui tirando de minha bolsa alguns brinquedos na tentativa de fazer o
João sorrir, e nada. Brincamos de pião, com o robô de cordas, mostrei a ele
minha varinha mágica, pois é com ela que as crianças conversam e fazem seus
pedidos. Tirei da bolsa ainda, um coelhinho, um pandeiro e uma flauta. Nada.
Nenhuma animação. Tentei ler historinhas mas ele pouco interessou-se. Pensei:
ele deve estar indisposto. A medicação os deixa sonolentos, em outros,
extremamente inquietos e estressados. Olhei para ele e ele permanecia sentado
sem falar nada. Olhava os brinquedos sem vontade de brincar. Perguntei se ele
queria dormir ou se preferia brincar outra hora e ele não respondeu. Pensei em
deixa-lo mas aí, tirei de “minha super sacolinha de fazer criança feliz” uma
bexiga verde. Fui enchendo e depois comecei a soltar o ar esticando a borracha
para que fizesse aqueles estranhos e estridentes sons, e, para surpresa minha,
o João, caiu na gargalhada. Fiquei tão FELIZ que por pouco não subi na cama
para brincar com ele. Aí, ele me pediu um balão e quando tentou enchê-lo, se
babou todo. Deu muita risada quando eu, com uma fralda, secava o balão dizendo:
vamos secar o pescoço, os braços, a bunda; e ele rindo, olhando pro babado
balão. Depois disso, ficou falante e disposto. Brincamos mais um pouco e lhe
expliquei que precisava ver outros amiguinhos. Deixei com ele o balão e deixo
com vocês este registro de uma tarde quente em um quarto do Hospital de
Clínicas.
Maira Knop Fagundes
Relações Públicas – Poeta - Voluntária do Instituto do Câncer Infantil
Quando desperto triste
deitada fica a terceira parte
adormecida
pra não ser incomodada
e cuido
em fazer silêncio
já que os chinelos
mais leves
dançam
para alegrar-me
AO VENTO
Ah, quando penso em quanto já remei
me vem em convulsão
a lembrança
do céu no mar a banhar-se
ocupa-me então
um tanto de cansaço
um sentir-se
meio bagaço
e mesmo que a sombra espessa
de um só
balance entre as velas
inda assim
mesmo assim
velejo
04 outubro 2012
SEGREDOS
Sou perfume que sacia
calor que excita
sou noite que espreita
luz que às vezes grita
sou vida em outro corpo
alma fora de mim
sou o descanso do morto
sou e serei assim
sou uma boca calada
ou o ébano branco
sou uma boa risada
sou da tristeza o pranto
sou o que não digo
o que descreveram
se há inveja não ligo
fui o que conheceram