E n v o l t u r a S

27 novembro 2006


"...nas cordas vocais
d o
t e u
varal

quem dera fosse eu o vento..."

26 novembro 2006









R e M b R a N d T

INTERIORmente...

Dentro de mim
letras de vidro
expressam meu ser,
como colcha de retalhos
contam minha história
traçam meus eus,

alinhavam minhas idéias
minhas fissuras,
costuram farrapos
meus trapos
ancorados em ondas
de sonhos,
levados, repetidos,
repartidos, repisados...

no ir e vir
me escondo,
me mostro,
me acendo e apago,
cicatrizo dores com
gritos em compressas,
em feridas latentes,
abertas
em assepsia
de dores diversas
no escuro de meu
eu.

23 novembro 2006

DESCOMPASSOS

Aquele era um excitante caminho a ser percorrido. Das árvores apanhava as frutas. Das ruas, os perigos. Tentava convencer seus passos induzindo sua sombra. Como se fosse fácil conduzí-los. Independentes passos. Teimosos que eram. As tardes, a seu modo, possuiam uma gama de emoção que fazia encher- lhe os olhos. Quentes e aconchegantes despertavam-lhe ânsias. Sutilmente, convidava-lhe a estação, a receber a noite. Dos sete aos nove anos, percorria aqueles caminhos. Da terra inda sentia o cheiro e sabia que, fosse como fosse, no dia seguinte a reencontraria. Guardava na janela dos olhos as pedras que naquele tempo lhe faziam companhia. Explorar o desconhecido era todo seu fascínio. Sobressaltou-se certa vez ao andar sobre tubulações. Eram tubos de concreto que postos lado a lado, serviam de caminho aos dejetos encontrados hoje na água que bebemos. Saltando sobre eles seus passos aterissaram em arrependimento diante daquele ofídio que com um acenar de cabeça cumprimentava-lhe. Cochichou pensativa...se meus passos me desobedecerem agora...

22 novembro 2006


J A R D I N A R

Em sendo flor
entrego ao tempo
meu renascer
nas sobras que pulverizo
quando
de quando
em vez
avizinhada ao teu jardim
espio-te!

S E R Á ?

...se
eu escrever
com letras
invisíveis
alguém acreditará
que estou fazendo
poesia em


SI
LÊN
CI
O?

a m i m
c o u b e t u a í n f i m a

m e l h or p a r t e
e m p o a d a
p á l m e r

20 novembro 2006

D U A L I D A D E

Ah, essa afinidade
partidária de nossas almas
o cerrar dos olhos
a calma,

este interlúnio
de brumas absorvidas
refletidas em tuas linhas
em nossas filigranas,

Ah, estes ritmos inumeráveis
bulindo sonhos
adeptos
de nossa germinação poética!

17 novembro 2006

M A R T Í R I O

Ao rolar,
a lágrima
transporta
a essencial dor
que desloca-se
e desloca-se
como
fluxo
ao rolar,
a lágrima densa
sufoca amor
e brinca de chover em mim.

08 novembro 2006

E N C A R N I Ç A D O

Um lugar sem misturas. Uma casa comum, humilde. Um ordinário bairro. Fez-se silêncio quando curiosos buscavam registros naquela tarde. Tudo em volta era vagaroso. Nas condições em que o haviam encontrado, ninguém fazia o menor juízo do acontecido. Ninguém sabia o que houvera. As moscas, quietas, sequer comentavam o que viram. Espalhavam-se pelo ambiente ora zunindo e brilhando, ora pousadas silenciosas sobre o defunto. Nem aqueles nojentos insetos respeitavam o inútil. Passeavam incansáveis em sua boca, em seu ouvido. Em meio a muita gente contemplei o coitado. Estirado no chão. No sujo chão da cozinha. Tão sujo quanto o copo de morraça que jazia em sua mão. Parecia inchado. Talvez estivesse. Pés descalços, camisa e olhos vítreos abertos. Contemplava o teto ou quem sabe as moscas, decerto. A poça de sangue que esparramava-se ao seu lado tingia desconforto em quem chegava. O cheiro enjoativo impregnava-se na peça. Era cheiro de corpo interrompido, calado. Sobre ele, curvava-se a patroa. Recostados às paredes, os demais. Nem havia cadeiras pra todo mundo. Havia sim muita dor, crianças, uma centena de gentes. Talvez toda rua, ou o bairro inteiro. Vez em quando saía alguém abrindo passagem a outros olhos. Olhos que ali buscavam o que houvera. Depois, quando muitos haviam chegado e saído, sobravam ainda alguns choros gemidos...
Às vezes ouvia-se desespero, susurros, medos, depois mais nada
...